Circulação de espetáculos: a vontade de chegar a comunidades ribeirinhas

Circulação de espetáculos: a vontade de chegar a comunidades ribeirinhas

Viajar a um lugar distante para levar arte é a meta de basicamente todo ator. Mas para fazer isso é preciso criar estratégias e passar por cima de muitos desafios. O baixo recurso financeiro geralmente fica no topo dessa barreira de propagação cultural.

Experiente na circulação de espetáculos em Rondônia, a atriz Jamile Soares já levou o Teatro Ruante para dezenas de cidades no estado, só que sua meta é propagar a cultura além da zona urbana.

“Eu quero me apresentar e chegar nas comunidades que permeiam os rios, as ribeirinhas. Porque a cultura é a voz de um povo. A circulação de espetáculo é importante pela aproximação com o público, com a identificação. Por isso é importante chegar a cultura nessas comunidades”, afirma.

No entanto, na opinião da atriz, os espetáculos só vão chegar a esses ribeirinhos se houver  ampliação de políticas públicas, principalmente municipal e estadual.

“Eu acredito que seja possível investir em editais justamente pra ter essa possibilidade, de chegar nos diversos lugares. Na cidade de Porto Velho sempre fomos carentes de editais municipais. Não podemos depender só de editais federais, é importante ter um municipal.  Precisamos de política permanente e não uma coisa temporária, pois nossa cultura é muito Inca e tem muito a dizer”, ressalta.

Atriz Jamile Soares interpretando a personagem Joana no espetáculo Inimigos do Povo, da Trupe dos Conspiradores

Trabalhando com o Teatro Ruante desde 2016, Jamile já levou quase dez espetáculos diferentes para o público rondoniense. O primeiro trabalho – e um dos que mais circulou – foi o “Era uma vez João e Maria… e ainda é”.

Outros espetáculos importantes nesses cinco anos de teatro de rua foram: “A muy lamentável e cruel história de Píramos e Tisbe”, “Ofélia, Pátria!”, “Projeto Palhaçaí” e “Cabaré Ruante”.

Para apresentar uma peça ao ar livre, como em praças, a atriz Jamile Soares pontua a necessidade de oficinas de aperfeiçoamento e preparação para tudo que se pode encontrar em um ato.

“No teatro de rua você tem que estar preparado no caso do cachorro aparecer ou o pipoqueiro. Quando isso acontece, a gente precisa estar preparado para esse jogo do improviso. Usamos isso a nosso favor, brincamos quando aparecem situações assim. Para ficar preparada, no caso de interferência do público, são realizadas oficinas. A Casa Ruante, antes da pandemia, por exemplo, aplicava essa oficina de palhaços, de circo, contação de histórias…”, diz Jamile.

Para um artista apaixonado pelo teatro ruante, a grande “recompensa” da apresentação é o carinho do público, que na maioria das vezes está assistindo pela primeira vez a um espetáculo.

“Geralmente as pessoas estão passando perto de uma praça onde a gente tá se apresentando, aí percebe a movimentação, para e acompanha o espetáculo. É muita gente vendo o teatro pela primeira vez. Pessoas entusiasmadas, acompanhando a arte”, comenta.

Um dos últimos espetáculos apresentados na rua por Jamile foi o “Cabaré-Ruante: um show de palhaçada”, encenado no ano passado, já durante a pandemia da Covid-19.

A palhaçaria foi apresentada em Porto Velho seguindo todos os protocolos sanitários, como o uso de máscaras e sem aglomeração. Mas a esperança de Jamile é que o grupo possa voltar com espetáculos da maneira como acontecia antes de 2020 – com mais público.

Enquanto a pandemia não passa, a artista (assim como toda a categoria) segue trabalhando e investindo mais na produção do audiovisual.

“Uma hora a pandemia vai cessar. Assim, eu acredito que o formato virtual veio pra ficar. Mas o teatro presencial é a arte da presença. A gente vai voltar com o teatro nas ruas ainda, o teatro vai continuar sobrevivendo. Esse momento vai acontecer, isso não se pode perder: o ritual de olhar nos olhos. A gente gosta da presença do público, de olhar a sensação”, finaliza. 

Texto: Redação

Fotos: Divulgação

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