‘Demônia Azul’: a performance drag que nasce através do gatilho emocional

‘Demônia Azul’: a performance drag que nasce através do gatilho emocional

Muito mais que glitters e figurinos ousados. A preparação para a performance de uma drag queen envolve principalmente o uso da linguagem híbrida — quando os gestos e danças se mesclam com a fala e a escrita.

E foi combinando todos esses elementos que, há quase dez anos, Wesller Nascimento deu vida para a Demônia Azul, a drag que nasceu ao som de Elza Soares em uma boate no interior do Paraná.

“Eu iniciei na performance por acaso, por incentivo de outras pessoas. Eu dançava em casa, no meu quarto, mas nunca havia pensado em me apresentar no palco ou que isso fosse uma arte que eu pudesse fazer. Eram sempre experimentações, aí um dia veio o convite da dona de uma boate em Cascavel. E foi assim que comecei a performar, lá pelos meus 22 anos”, relembra.

O reality de competição RuPaul também teve uma parcela de responsabilidade para despertar a Demônia Azul.

E após começar as dublagens e descobrir a paixão pela performance, enquanto morava no Paraná, Wesller se apresentou nas cidades de Toledo, Cascavel, Marechal Cândido Rondon e Pato Branco.

Mas afinal como se nasce uma performance? Em Wesller, hoje com 29 anos, o “show” surge sempre através das explosões de fortes emoções.

“A performance surge geralmente de gatilho. Eu sou da militância pela causa LGBT, da população negra, de todos esses atravessamentos que eu entendo por garantia de direitos à essa população. A minha performance é construída a partir de um incômodo meu, mas que também é coletivo. Uma das performances que mais me marcou foi quando eu usava dread e era muito assediado na rua, por conta do meu cabelo e tudo mais. Aí eu decidi raspar meu dread numa apresentação, então foi um processo que veio: tirar meu cabelo não por incômodo, mas eu conseguir dizer o que eu queria com esta imagem. Pois tirar o dread numa sociedade completamente racista, teria que ser simbólico, e nada mais bonito do que pra mim fazer isso em cima do palco”, explica.

A arte performática, conforme explica Wesller, ainda engloba elementos que se mesclam aos do teatro, das artes visuais e da música.

Residindo em Vilhena (RO) há cerca de um ano, Wesller ainda não conseguiu performar presencialmente na cidade, devido à pandemia, mas ele não vê a hora de subir novamente aos palcos.

“Sinto falta. Nesses anos de montagem eu já performei em boates, dentro da universidade, em frente de estádio e em protesto contra atentado à democracia”, comenta.

Enquanto as atividades culturais não são 100% restabelecidas de forma presencial, Wesller passou a investir em performances através da internet.

 “Estou fazendo fotomontagem, onde mostro a história sobre as dores da minha vida. Inclusive produzindo vídeos onde não estou montado. Para trabalhar no audiovisual, tive que aprender, aprender de luz, montagem, edição”, afirma.

Texto: Redação

Foto: Divulgação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *