(IN)visibilidade: a arte de provocar o público com o teatro de rua

(IN)visibilidade: a arte de provocar o público com o teatro de rua

Entrar para o teatro de rua foi um caminho sem volta na vida profissional de Rafael Barros, do “(IN)visibilidade”. Há seis anos o ator foi convidado a fazer uma intervenção em via pública. Inicialmente a proposta era para um experimento rápido, mas foi ali, apresentando o espetáculo ‘Transformação’ que o ator descobriu sua paixão pela performance em espaço aberto.

“Quando fiz esse experimento nunca mais saí do teatro de rua, pois nas vias públicas me senti muito maior e muito mais potente do que dentro de uma caixa cênica. A minha maior experiência foi em apresentação solo. Só eu, uma mala e o público”, enfatiza.

Uma das características do teatro de rua é o fato dele ser pensado para espaços de trânsito, e buscando sempre provocar meditação, raciocínio e observação do espectador.

E o público sempre reage quando assiste a um espetáculo de rua – e sempre gosta de interferir. “Em uma ocasião, por exemplo, uma senhorinha tocou delicadamente nas minhas costas para fechar o vestido que eu estava usando na perfomance”, relembra.

 Mas nem sempre as reações dos espectadores são com gestos de carinho. Em uma apresentação já houve até morador apontando arma de fogo para o ator, na tentativa de afastá-lo do local da performance.

“Já teve apresentações que a polícia foi envolvida, e até o Samu. O teatro de rua é um jogo muito forte com o público. Mas é pra isso que eu tô ali, eu gosto de ir para a apresentação com a sensação de: ‘Caraca, eu acho que vou morrer hoje’. Isso me deixa muito mais alerta, muito mais provocador. Eu tenho consciência de que tudo que o público volta pra mim são coisas que eu provoquei neles. Claro, geralmente fica uma equipe minha infiltrada na população e ela intervém quando entende que alguém vai passar o véu da sanidade, e no caso de meu corpo ficar muito em risco. Nunca chegou a acontecer de interromper a apresentação, mas já chegou no quase”, acredita.

Em Rondônia, Rafael Barros fez performance nas ruas de Porto Velho, Ji-Paraná, Guajará-Mirim e Vilhena.

O ator também já levou seus espetáculos para outros estados. Em 2016 ele participou do Festival Nacional de Teatro de Araguari, em Minas Gerais. No mesmo ano esteve no Festival de Artes Cênicas de Conselheiro Lafaiate e no Circuito Ativo, no Amazonas.

Em 2017 ele foi artista convidado do Palco Giratório, em Porto Velho, e se apresentou nas ruas da Bolívia. No ano seguinte, em 2018, Rafael esteve no Festival Internacional de Campinas e no Circuito Sesc Amazônia das Artes, onde percorreu dez estados. Por último, antes da pandemia, o ator esteve no Festival de Teatro de Guaranésia (2019), em Minas.

Aos 24 anos de idade, Rafael soma três premiações no currículo, sendo que em um deles recebeu o reconhecimento de melhor visualidade espacial (categoria rua) no Festival Nacional de Teatro de Guaranésia.

De acordo com o ator, nesses anos de estrada ele notou que o comportamento do público e as interferências sempre são diferentes em cada região por onde passou.

A apresentação mais rápida que Rafael fez na rua durou 25 minutos, enquanto a mais demorada chegou a quase três horas. E após cada espetáculo levado à rua, o ator segue um ritual sabático.

 “Eu sinto que preciso me descarregar. As três próximas horas [depois do espetáculo] eu fico praticamente em silêncio, depois eu vou escrevendo o que eu tive de sensação, coisas que observei. Porque tem esse lugar de Rafael que não tá só apresentando, mas assistindo ao público performar junto com ele naquela ação. Cada apresentação é muito única, e é sempre um misto mais de agregar experiências pra minha defesa”, revela.

Desde que a pandemia da Covid começou, o ator ficou impedido de atuar nas ruas. Em quase dois anos, Rafael Barros não fez nenhuma apresentação presencial, apenas nos espaços virtuais criados por causa da crise sanitária.

“Estou morrendo de saudade de me apresentar na rua, quero saber como meu corpo vai estar pronto. E com a volta das apresentações presenciais, eu espero que seja diferente o comportamento do público. Espero que as pessoas saiam desse isolamento com sede de consumir trabalhos artísticos”, finaliza.

Texto: Redação

Fotos: Divulgação

Um comentário em “(IN)visibilidade: a arte de provocar o público com o teatro de rua

  1. Simplesmente fantástico, conheço e acompanhei o trabalho do Rafael Barros. É um artista que investe nos seus trabalhos de forma muito intensa, gosto disso nele. Parabéns pela matéria me fez recordar e ao mesmo tempo refletir sobre ação do artista ao desenvolver sua obra.

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